sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sexta-feira

Sexta-feira primaveril em fim de Outubro. Fim de tarde na minha cidade, com as pessoas a regressarem a casa e a deixarem os espaços em silêncio. Óptima altura para deambular por entre as pedras que contam histórias que provavelmente nunca aconteceram, mas que povoam o nosso imaginário.
Esperem pela noite, munam-se de olhar atento e passeiem sem destino pelas ruelas da cidade histórica como se por elas caminhasssem pela primeira vez.
Dizia-me ontem um arquitecto, que as cidades antigas têm uma forte carga erótica, onde nada é óbvio e tudo é descoberto ao caminhar. Concordo plenamente com ele. Quem a quiser sentir tem que a percorrer e estar disponível para a descobrir por entre as ruas estreitas, que desembocam em imprevisíveis praças para de novo mergulhar em recantos que só alguns são capazes de usufruir.
A Évora histórica é uma cidade onde é possível descobrir sempre algo de novo, mas que sempre lá esteve. É uma cidade para se percorrer como um corpo que se descobre de cada vez que se toca.
Deixo uma sugestão para um fim de noite tranquilo, sentados no chão, com ou sem um copo na mão. A música de John Dowland, um songwriter nascido nas ilhas britânicas em 1563, interpretada por Sting e Edin Karamazov. Songs from the labyrinth uma edição da Deutsche Grammophon.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O dia antes do segundo


Ontem foi o dia primeiro de um novo papel a desempenhar. Sensações diferentes perante olhares desconfiados, olhares curiosos e olhares receosos de outros inquisitoriais observadores. Mas ainda assim olhares, o que nos tempos que correm não é de todo desprezível.
Esta semana vou descobrir outros olhares nas visitas que faremos aos serviços da Câmara. Parece que teremos a companhia vigilante dos que se sentem "donos do espaço", provavelmente numa tentativa de dissuadir possíveis cumplicidades. Uma espécie controlo pela expressão facial. Espero que os "donos do espaço" não mandem abater todos os que ousem sorrir. Abater a uma qualquer lista, obviamente, que os tempos não estão para outras violências.Já me basta ter um cão de fila a ladrar-me às canelas pelo menos uma vez por semana.

domingo, 25 de outubro de 2009

Leituras e "preguntitas"

Estou quase a terminar o caim. Gosto em particular dos diálogos e desses recomendo particularmente três: o diálogo de eva com o querubim, o diálogo da caim com o senhor e diálogo de caim com abraão.
Lembrei-me, a propósito, de uma canção a que a interpretação de Chavela Vargas encheu de força e raiva.
É uma canção de Atahualpa Yupanqui, preguntitas sobre dios, e que aqui deixo como contributo para outras perguntas.

Un día yo pregunté:
¿Abuelo, dónde esta Dios?
Mi abuelo se puso triste,
y nada me respondió.

Mi abuelo murió en los campos,
sin rezo ni confesión.
Y lo enterraron los indios
flauta de caña y tambor.

Al tiempo yo pregunté:
¿Padre, qué sabes de Dios?
Mi padre se puso serio
y nada me respondió.

Mi padre murió en la mina
sin doctor ni protección.
¡Color de sangre minera
tiene el oro del patrón!

Mi hermano vive en los montes
y no conoce una flor.
Sudor, malaria y serpientes,
es la vida del leñador.

Y que naide le pregunte
si sabe dénde esta Dios:
Por su casa no ha pasado
tan importante señor.

Yo canto por los caminos,
y cuando estoy en prisión,
oigo las voces del pueblo
que canta mejor que yo.

Si ha una cosa en la tierra
más importante que Dios
es que naide escupa sangre
pa’ que otro viva mejor.

¿Qué Dios vela por los pobres?
Tal vez sí, y tal vez no.
Lo seguro es que Él almuerza
en la mesa del patrón.

Deixo-vos a interpretação de Soledad Bravo, mais doce que a da Chavela.
http://www.youtube.com/watch?v=bv8-eNBVdn4&feature=related

sábado, 24 de outubro de 2009

Formalidades

"Juro por minha honra que cumprirei com lealdade..."
Coisas óbvias não deveriam obrigar a solenidades. Ninguém respira solenemente. Exceptuando talvez os que precisam que os obriguem a respirar.
Espero que a mão não me trema e a caneta, oferecida para o efeito, cumpra o seu papel. Espero que a voz não vacile e soe clara e afirmativa. Espero não ser vencido por nenhum cansaço súbito. Espero que os meus camaradas me iluminem com a clarividência que resulta do esforço colectivo.
Não, não estou a falar do acto de tomada de posse.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Reencontro


Ontem reencontrei-me com uma rotina de que já tinha saudades. Fui buscar a Joana à escola para a entregar nas mãos ternas e na garganta enérgica da Amélia Mendoza. Ando por aqui às voltas a tentar descobrir a que me soube aquele abraço "mochilado" e aquele sorriso cheio de dentes e não encontro palavras que sirvam o efeito.
Há momentos assim. Momentos tão plenos que não sobra espaço para a explicação. Quase sempre são os pais e os filhos que nos proporcionam esses momentos, porque são aqueles que amamos... porque sim.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Porque sim!



Depois de um tempo em que não houve tempo para ter tempo, começa a chegar um outro tempo em que, apesar do tempo ser curto, haverá tempo para escrever sobre coisas banais.
Não serão grandes e profundas reflexões, porque o tempo não está para isso, mas mensagens curtas sobre o que me vai tocando os sentidos, palavras minhas e de outros, ditos meus sobre os ditos dos outros, ditos meus sobre os silêncios dos outros.
Haverá dias em que o silêncio se imporá e outros em que os gritos ecoarão por esta selva (não que eu seja o Tarzan ou qualquer outro herói de banda desenhada).
Quem tiver tempo para saber como está o tempo, passe por aqui... quem sabe não encontra o tempo que lhe vai faltando.