segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Já passou

O período natalício já lá vai e está a chegar o desafio da passagem de ano. Dito assim parece que sou um corredor de 110 metros barreiras, sendo que as barreiras são as "comemorações" por obrigação da organização do calendário.
Este é um tempo com o qual lido mal, contraditório, com a razão a mandar-me ignorar os entusiasmos alheios e a memória implantada por quase 50 anos de "socialização" a agir de forma contrária.
Na próxima quinta-feira passarei a meia-noite fora do ambiente estritamente familiar, rodeado de gente que aprendi a conhecer melhor no ano que agora termina.
A insistência e persistência de um camarada especialista nisso mesmo, em persistência, vai fazer acontecer um jantar de fim de ano e uma ceia de ano novo e eu, apesar de preferir sempre a solidão nesses momentos, lá irei experimentar uma coisa mais radical.
Não sendo um sacrifício, confesso que a falta de hábito de festejar fora aquele momento (há 30 anos que o faço em casa) me deixa apreensivo sobre como me irei comportar.
Para completar o cenário, o famoso organizador anda a anunciar que irei ser DJ no momento musical do encontro.
Isto cria-me um problema adicional que posso dividir em várias dificuldades. Desde logo a falta de talento para a performance, depois o facto do meu gosto musical poder não corresponder àquilo que os meus amigos esperam e ainda a pequena questão de não saber como irá estar a minha disposição nessa noite.
Uma das coisas que mais admiro naqueles cuja profissão é, no essencial, comunicar com os outros é a sua capacidade de serem dois em um. O que comunica e o que está preocupado com as coisas mais comezinhas da vida, sendo que o personagem, tendo vida, não tem as coisas comezinhas.
Seja como for lá estarei para comer, beber, rir e fazer sair das colunas de som as minhas escolhas mais ou menos dançantes, mais ou menos óbvias e fazer o esforço de tentar não tocar na vulgaridade.
Se tudo correr mal durante aquela hora em que fingirei de artista, terei sempre os abraços solidários dos meus amigos e camaradas e uma açorda alentejana para a ceia. Espero que todos saibam como pode uma açorda ser reconfortante para um mau desempenho... seja de que performance for.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Prenda para a "mãezinha"



Este ano a minha mãe vai ter uma prenda especial. Encomendei na Oficina da Terra uma escultura que representasse a sagrada família: eu, os meus irmãos e a dama de ferro.
Entreguei ao Tiago e à Magda uma foto e tracei um breve perfil das personagens. O resultado foram uns bonecos fantásticos, cheios de hamanidade e sentido de humor.
Esta vai ser a prenda que vamos oferecer à minha mãe, que irá ficar zangadissima por fora e contentissima por dentro e nós vamos fingir que não percebemos e que somos uns incompreendidos.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A minha prima Zulmira e a questão dos minaretes

A minha prima Zulmira anda zangada. Entrou casa dentro, afogueada e a gesticular contra aqueles parvalhões insensíveis que vivem lá para o meio da Europa rodeados de chocolates, relógios e bancos com contas secretas.

Então aqueles gajos lembraram-se de fazer um referendo para perguntar às pessoas se queriam proibir que se fizessem mais minaretes lá na terra deles?
É indecente, desumano e revelador de uma tacanhez mental que não lembra o diabo, dizia ela enquanto andava de um lado para o outro com as mãos nas ancas.
Que têm eles que se meter naquilo que há de mais íntimo da vida de cada um? Que direito tem a minha vizinha do lado de me dizer o que devo usar para chamar os meus devotos? Ora essa.
E lá foi ela porta fora a falar sozinha contra a insensibilidade e mau gosto dos suíços.
Quem diria que a minha prima Zulmira, sempre tão conformada e desatenta das grandes questões, leitora das revistas cor-de-rosa e seguidora de quatro telenovelas ao mesmo tempo, se iria indignar por causa dos minaretes que os suíços não querem que se façam.

Em http://pt.wikipedia.org/wiki/Minarete
Minarete (do turco minare,[1] por sua vez do árabe منارة ou مئذنة, transl. manāra, "farol") é a torre de uma mesquita, local do qual o almuadem anuncia as cinco chamadas diárias à oração. Os minaretes, que também recebem o nome de almádena, são normalmente bastante altos se comparados às estruturas que o circundam.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Serão...

Há muito tempo que não estava em casa a esta hora a uma segunda-feira. Há muito tempo que não levava com o Prós e Prós e desta vez, por razões que não vêm agora ao caso, a televisão está aos gritos e uns senhores engravatados dizem coisas engraçadissimas sobre a crise, as suas consequências e as saídas da dita.
Como se não bastasse um dos assistentes aqui em casa, acha que alguns são de esquerda e outros são de direita, uns são muito maus e os outros são quase bons.
Sei que deveria estar imbuído do espírito de tolerância próprio da época e da vivência em família... mas não consigo. Culpa minha.
Escolhi um CD da Joni Mitchell, coloquei os auscultadores e assim até consigo sorrir e ter um ar ligeiramente simpático.
Que excelente interpretação da senhora, num disco de 1979 com o título "Mingus", porque uma parte das composições são da autoria de Charles Mingus. Destaco em particular uma faixa "The Wolf taht lives in Lindsey", onde até o uivar do lobo em fundo me soa a música.
Assim, consigo sorrir enquanto os representantes da classe possidente vomitam as suas soluções para a crise. Essa mesmo. Aquela que resulta da existência deste sistema iníquo assente na exploração do homem pelo homem.
Este escrito está mesmo com uma liguagem nada modernaça. Apesar disso a Joni Mitchell canta divinamente, o Charles Mingus fazia música fantástica e a luta de classes existe.

domingo, 29 de novembro de 2009

Pássaro Cego

Manuel Paulo é, de todos os "Trovante", o mais discreto e aquele que produz a música que me "cai" melhor no ouvido.
Estou a ouvir o último trabalho dele em parceria com a poesia de João Monge, com a voz doce da Nancy Vieira, numa edição que inclui excelentes fotos de Nanã Sousa Dias e pinturas de João Ribeiro.
São onze canções que vão de ilha em ilha, da Ilha da Salvação à Ilha dos Amantes, num voo tranquilo de Pássaro Cego.
Gosto de tudo neste disco/livro. Da música à poesia, das fotos à pintura, da voz da Nancy e ainda do bónus que é o dueto com Chico César.
Provavelemente não chegará a nenhum top, nem incluirá nenhuma play list. É, decididamente, uma excelente prenda para gente de bom gosto.
Para os outros... pode ser sempre um Very best of qualquer, ou o sempre na moda par de meias, de preferência turcas e brancas com as duas riscas a sublinhar o par de raquetes de ténis.
E sim... estou entre o bem disposto e o amargo...     

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Faltas de comparência

Ando arredio deste sítio por manifesta falta de tempo para escrever. É incrível como é muito mais fácil escrever para o jornal e para a rádio, sobre asuntos de todos, do que escrever aqui sobre o que me ocupa, preocupa ou nem isso.
Vamos ver se arranjo espaço e disponibilidade para acertar contas com a minha própria página (quereria eu dizer imagem?)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

De Luto

O Cendrev vem desta forma comunicar o falecimento de Mário Barradas, ocorrido na sua casa de Lisboa, hoje dia 19 de Novembro, pela manhã.

Uma vida dedicada ao teatro. Um contributo activo e fundamental para o desenvolvimento do panorama teatral português nas últimas décadas.
Em Évora, fundou o projecto que foi referência da descentralização teatral em Portugal, projecto esse responsável pela formação de várias gerações de actores e germinação de novas estruturas artísticas.
Mário Barradas foi um Homem do Teatro em toda a sua dimensão de actor, encenador, pedagogo e pensador de políticas teatrais.
Mário Barradas não foi um homem de consensos. Polémico, agressivo nas suas posições, o seu contributo foi absolutamente determinante para a nossa formação teatral mas também humana.
O teatro perdeu um dos seus obreiros. Fica o seu grande exemplo de vitalidade e amor ao teatro.


Até sempre Mário!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dia Mundial da Prematuridade

Há cada dia... Imaginem que até existe um para minha filha Teresa.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Há dias assim






Hoje foi um dia cheio e intenso. Hoje foi um dia em que a corda esteve sempre esticada.
Hoje foi um dia que valeu a pena.

domingo, 15 de novembro de 2009

Outra vez Sting


Outra vez Sting, para dias de Inverno e melancolia. Último disco If on a winter's night...para ouvir perto do fogo e em lume brando.

Fim de semana

Há fins de semana assim. Como o bacalhau. Com todos!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Aniversário

Parece que a Rua Sésamo faz hoje 40 anos. Parabéns ao Egas, ao Becas e ao Monstro das Bolachas. Um muito esperto, um "distraído" e um que come todas as bolachas que consegue apanhar.
Hoje é dia de noite longa. Espero que as bolachas aguentem. 

domingo, 8 de novembro de 2009

Usurpação de lugar

Os bobos estão sem trabalho e sem ganhar
Porque os sábios ocuparam o seu lugar

O Rei Lear, William Shakespeare

Sábias palavras do Bobo.

sábado, 7 de novembro de 2009

Outubro

Faz hoje 92 anos que o mundo foi abalado por um acontecimento deveras fantástico (uma revolução é semre um acontecimento fantástico). Operários armados assaltam o Palácio de Inverno e prendem os ministros do governo de Kerenski dando o passo decisivo para a instauração do primeiro Estado de operários e camponeses, com a passagem do poder para os Sovietes.
Faz hoje 92 anos que um acontecimento fantástico deu um sentido diferente à palavra Outubro. A Revolução Russa de 1917 mudou para sempre a face do mundo e apesar das derrotas impostas e auto infligidas, os comunistas e revolucionários de todo o mundo devem olhar para aqueles dias e deles retirar a grande lição. Sim é possível!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Coisas do baú das prosas

Andei no baú das coisas que por vezes escrevo e escondo. Encontrei um texto sem data e, provavelmente, sem sentido. Porque escolhi este espaço para colocar o que não é suposto ser colocado, aqui vos deixo algo que escrevi num dia em que, provavelmente, estaria pouco recomendável.

Esplanada

Na sexta-feira passada parei numa esplanada fantástica. Um restaurante entre São Torpes e Porto Covo. Virada para o sol no momento em que ele se põe. Abrigada.
Para aquela esplanada levava uma máquina fotográfica, um livro e capacidade de observação. Pedia um vinho branco, fresco. Esperando pelo anoitecer, esperando que alguém surgisse do nada e pedisse para se sentar em silêncio. As palavras cada vez mais me atrapalham os sentidos.
Depois, quando Sol penetrasse o Mar naquele momento único e mágico, fumaria um cigarro a meias. Fumar um cigarro a meias pode ser uma forma sublime de beijar.
Emprestariamos as mãos um ao outro, para descobrir as linhas em que não nos queremos enredar. E assim ficaríamos a noite toda, esperando o amanhecer em cada um.
A esta hora perguntam-me mas afinal para que querias tu o livro e a máquina fotográfica. Eu explico. O livro porque me dá um ar inteligente (principalmente se escrito noutra língua qualquer), a máquina fotográfica para a eventualidade de não aparecer ninguém e eu não poder parar o tempo no teu olhar.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sexta-feira

Sexta-feira primaveril em fim de Outubro. Fim de tarde na minha cidade, com as pessoas a regressarem a casa e a deixarem os espaços em silêncio. Óptima altura para deambular por entre as pedras que contam histórias que provavelmente nunca aconteceram, mas que povoam o nosso imaginário.
Esperem pela noite, munam-se de olhar atento e passeiem sem destino pelas ruelas da cidade histórica como se por elas caminhasssem pela primeira vez.
Dizia-me ontem um arquitecto, que as cidades antigas têm uma forte carga erótica, onde nada é óbvio e tudo é descoberto ao caminhar. Concordo plenamente com ele. Quem a quiser sentir tem que a percorrer e estar disponível para a descobrir por entre as ruas estreitas, que desembocam em imprevisíveis praças para de novo mergulhar em recantos que só alguns são capazes de usufruir.
A Évora histórica é uma cidade onde é possível descobrir sempre algo de novo, mas que sempre lá esteve. É uma cidade para se percorrer como um corpo que se descobre de cada vez que se toca.
Deixo uma sugestão para um fim de noite tranquilo, sentados no chão, com ou sem um copo na mão. A música de John Dowland, um songwriter nascido nas ilhas britânicas em 1563, interpretada por Sting e Edin Karamazov. Songs from the labyrinth uma edição da Deutsche Grammophon.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O dia antes do segundo


Ontem foi o dia primeiro de um novo papel a desempenhar. Sensações diferentes perante olhares desconfiados, olhares curiosos e olhares receosos de outros inquisitoriais observadores. Mas ainda assim olhares, o que nos tempos que correm não é de todo desprezível.
Esta semana vou descobrir outros olhares nas visitas que faremos aos serviços da Câmara. Parece que teremos a companhia vigilante dos que se sentem "donos do espaço", provavelmente numa tentativa de dissuadir possíveis cumplicidades. Uma espécie controlo pela expressão facial. Espero que os "donos do espaço" não mandem abater todos os que ousem sorrir. Abater a uma qualquer lista, obviamente, que os tempos não estão para outras violências.Já me basta ter um cão de fila a ladrar-me às canelas pelo menos uma vez por semana.

domingo, 25 de outubro de 2009

Leituras e "preguntitas"

Estou quase a terminar o caim. Gosto em particular dos diálogos e desses recomendo particularmente três: o diálogo de eva com o querubim, o diálogo da caim com o senhor e diálogo de caim com abraão.
Lembrei-me, a propósito, de uma canção a que a interpretação de Chavela Vargas encheu de força e raiva.
É uma canção de Atahualpa Yupanqui, preguntitas sobre dios, e que aqui deixo como contributo para outras perguntas.

Un día yo pregunté:
¿Abuelo, dónde esta Dios?
Mi abuelo se puso triste,
y nada me respondió.

Mi abuelo murió en los campos,
sin rezo ni confesión.
Y lo enterraron los indios
flauta de caña y tambor.

Al tiempo yo pregunté:
¿Padre, qué sabes de Dios?
Mi padre se puso serio
y nada me respondió.

Mi padre murió en la mina
sin doctor ni protección.
¡Color de sangre minera
tiene el oro del patrón!

Mi hermano vive en los montes
y no conoce una flor.
Sudor, malaria y serpientes,
es la vida del leñador.

Y que naide le pregunte
si sabe dénde esta Dios:
Por su casa no ha pasado
tan importante señor.

Yo canto por los caminos,
y cuando estoy en prisión,
oigo las voces del pueblo
que canta mejor que yo.

Si ha una cosa en la tierra
más importante que Dios
es que naide escupa sangre
pa’ que otro viva mejor.

¿Qué Dios vela por los pobres?
Tal vez sí, y tal vez no.
Lo seguro es que Él almuerza
en la mesa del patrón.

Deixo-vos a interpretação de Soledad Bravo, mais doce que a da Chavela.
http://www.youtube.com/watch?v=bv8-eNBVdn4&feature=related

sábado, 24 de outubro de 2009

Formalidades

"Juro por minha honra que cumprirei com lealdade..."
Coisas óbvias não deveriam obrigar a solenidades. Ninguém respira solenemente. Exceptuando talvez os que precisam que os obriguem a respirar.
Espero que a mão não me trema e a caneta, oferecida para o efeito, cumpra o seu papel. Espero que a voz não vacile e soe clara e afirmativa. Espero não ser vencido por nenhum cansaço súbito. Espero que os meus camaradas me iluminem com a clarividência que resulta do esforço colectivo.
Não, não estou a falar do acto de tomada de posse.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Reencontro


Ontem reencontrei-me com uma rotina de que já tinha saudades. Fui buscar a Joana à escola para a entregar nas mãos ternas e na garganta enérgica da Amélia Mendoza. Ando por aqui às voltas a tentar descobrir a que me soube aquele abraço "mochilado" e aquele sorriso cheio de dentes e não encontro palavras que sirvam o efeito.
Há momentos assim. Momentos tão plenos que não sobra espaço para a explicação. Quase sempre são os pais e os filhos que nos proporcionam esses momentos, porque são aqueles que amamos... porque sim.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Porque sim!



Depois de um tempo em que não houve tempo para ter tempo, começa a chegar um outro tempo em que, apesar do tempo ser curto, haverá tempo para escrever sobre coisas banais.
Não serão grandes e profundas reflexões, porque o tempo não está para isso, mas mensagens curtas sobre o que me vai tocando os sentidos, palavras minhas e de outros, ditos meus sobre os ditos dos outros, ditos meus sobre os silêncios dos outros.
Haverá dias em que o silêncio se imporá e outros em que os gritos ecoarão por esta selva (não que eu seja o Tarzan ou qualquer outro herói de banda desenhada).
Quem tiver tempo para saber como está o tempo, passe por aqui... quem sabe não encontra o tempo que lhe vai faltando.